quinta-feira, julho 27, 2006

 

SONHO

A minha amiga Choux casa amanhã. O último casamento de amigos a que assisti já foi há mais de 10 anos. Seguramente. Há bem mais. Os meus amigos não se casam. Entre os que podem e não querem e os que não podem, querendo ou não, tem-se instalado um deserto matrimonial. Vivem quase todos em uniões de facto, umas mais uniões, outras mais "de facto", mais ou menos felizes. Eu tenho muita sorte. Pertenço ao grupo dos unidos felizes, embora lastime a impossibilidade de oficializar a relação que tenho e da qual me orgulho tanto que não consigo impedir-me de toda inchar quando a ela me refiro. As razões do meu desconsolo não são as do costume. Pelo menos não as que são sempre apontadas pelos activistas da causa. Não me apoquentam as questões legais, por exemplo. A minha infindável fé no ser humano faz-me tranquila a esse respeito. O que me deixa desconsolada é a inviabilidade da...festa! Sim, Choux. Sim, Teté. Sei que posso fazê-la mas não é a mesma coisa! Sonho com vestidos de noiva pirosos, em seda selvagem, aplicações de brocado e pérolas - muitas pérolas - e metros e metros de tecido, cauda, véu, grinalda... Uma igreja que já vi e escolhi, com uma capela interior mínima mas linda, onde se realizaria a cerimónia propriamente dita, o sacramento, a troca dos votos entre ti e mim, sob o olhar comovido das centenas de amigos e familiares de pescoços esticados, em pontinhas de pé, corpos torcidos para não perderem pitada do que se passaria naquele cubículo. E, depois, uma festa linda. O copo d'água servido num lugar com mar e verde. Que também sei onde é, embora diste 7000 km da capela. Mas é tudo um sonho, não é? E entre tanta coisa que os sonhos têm de bom, uma delas é não precisarem de lógica. Nem de tempo nem de espaço.

Queria que o dia durasse muito. Queria que durasse muitos dias. Que conseguíssemos todos deslocar-nos para um limbo de existência etérea que nos permitisse estar dias e dias em fruição e gozo constante e total. Todos felizes.

É nesta altura que desço à terra. À minha condição humana, limitada e finita. E percebo que o que eu queria não é impossível apenas por uma questão legal obtusa acrescida da estúpida intransigência religiosa. E sinto-me feliz na mesma. Porque, conquanto o sonho me transporte para longe, para uma realidade perfeita que não existe, quando volto, encontro tudo o que quero. A consubstanciação em terra daquilo que existe no céu.

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