segunda-feira, agosto 07, 2006

 

CAIXA DE COMENTÁRIOS

Queria responder a alguns comentários mas a quantidade de vezes que iniciei e desisti das respectivas respostas serviu para que, inequivocamente, me declarasse avessa à caixinha das interacções. Decididamente, não é para mim. Assim sendo, visto que esta é a minha casa, porque não responder em poste?

Portanto, aqui vai disto. Sem referência aos destinatários que estou com preguiça demais para isso.

A beleza é um conceito totalmente subjectivo. Que adquire toda a objectividade a partir do momento em que é operacionalizado individualmente. Ou seja, assim que eu digo "não acho bonito uma fufa-canastrão", estou a definir, de forma muito objectiva, o meu ideal de fufa bonita. De quem não tenho que gostar, afectivamente falando. Na mesma exacta medida em que posso gostar muito de uma - para mim - muito feia.

Por outro lado, e ora aqui me retracto imperfeita, preconceituosa, intolerante, má pessoa, tenho dificuldade em perceber que haja quem não tenha um orgulho imenso em ser mulher. O que, para mim - imperfeita, preconceituosa, intolerante, má pessoa - passa enfaticamente pelo explorar de todas as potencialidades físicas com que o Grande Pai nos bafejou. E embonecarmo-nos todas é uma boa maneira de o fazermos. Permitam-me o devaneio, um gesto de tolerante condescendência: não é preciso andarmos pintalgadas nem em permanente equilíbrio sobre suicidas saltos. Nada disso! Muito do que eu não gosto nem tem a ver com a roupa nem com o penteado. Muitas vezes é uma questão de postura. De atitude, de um modo geral. E, é bem verdade, há gente de e para tudo. Não consigo deixar de pensar que os canastrões estão só esquecidas de si. Desligadas do potencial que têm. Mas isto sou eu, sempre virada para o meu umbigo.

sexta-feira, agosto 04, 2006

 

PERGUNTAR NÃO OFENDE*

As fufas que têm blogs preocupam-se com a aparência, gostam de se arranjar, cuidar da pele, do cabelo, fazem dieta... Então porque é que vejo tantos canastrões na rua?

* nome deste blog que, invariavelmente, me faz soltar gargalhadas muito bem dispostas

(Já agora, não vá ferir alguma susceptibilidade, deixem-me só dizer que gosto da palavra fufa. Como gosto da palavra mamas. Dizer lésbica é, para mim, o mesmo que falar em seios...)

quarta-feira, agosto 02, 2006

 

"COM TRÊS LETRINHAS APENAS"

Ando a ler muito. Já tinha saudades de me sentir presa a um livro, sempre uma parte de mim colada às personagens, a viver vidas paralelas à minha. Apercebo-me agora de que deve ser isso que sentem os "agarrados" aos blogs, muitas vezes injustamente acusados de não possuírem uma vida e, por isso, viverem suspensos das alheias... Faz-me sentido.

Comecei a ler muito cedo. Em dois dos sentidos estritos do verbo. Porque em sentido figurado e passe a presunção, não sou do género de ficar "a ler" muitas vezes... Provavelmente porque sou demasiado curiosa, cusca-abelhuda e insegura aos montes, tento nunca deixar que me passe alguma coisa ao lado.

Voltando à leitura... Inicialmente preguiçosa, depressa me interessei pelas letrinhas quando a minha mãe (que era uma senhora fora do seu tempo, sempre à frente) me obrigou a soletrar: M E R - D... "Oh mãe!..." "Vá lá! Continua... Vais muito bem. Agora esta." P O R R... E eu já toda corada, com as orelhas a queimarem, toda excitada, aos pulinhos na cadeira: "Mãeeeee! Eu não digo isso!" Mas, a partir daquele dia, desatei a procurar em todas as letras agrupadas a mesma sensação de prevaricação, aquele assomo de pecado.

Facilmente descobri que melhor do que encontrar palavras proibidas, podiam ser infinitamente mais arrebatadoras estórias inteiras. E foi assim que li, indiscriminadamente, entre os 8 e os 11 anos, o "Frei Luís de Sousa", "A Mãe" do Gorki, "Nós dois e o Sexo", toda a Enid Blyton (versão 7 e versão 5), pilhas de fotonovelas roubadas à minha tia solteirona romântica, almanaques do Tio Patinhas ainda em musical brasileiro, o "Guerra e Paz", os "Irmãos Karamazov", e a "Jane Eyre". Só para falar dos que me vieram à ideia assim de repente que não me apetece pensar muito nisso.

Desse tempo, guardo a memória de sentir uma espécie de melancolia que me remetia para um mundo só meu, onde eu me imaginava de todas as formas, em qualquer contexto. Se fosse hoje, com a mania que todos temos de observar as criancinhas - diminutivo de grande agrado dos psicólogos, a atentar no (ab)uso que dele fazem - diriam que eu era uma criança triste. Ou talvez não. Porque acredito que, já nessa altura, eu seria perita em disfarces. Solícita em me mascarar de nada para não perturbar a paz dos outros. O que até nem seria mau de todo uma vez que, se assim não fosse, seriam induzidos em erro. Eu nunca fui triste. Antes pelo contrário. Vivia feliz nas minhas fantasias, nos meus reinos encantados, para usar uma expressão banal. Mas não se pode viver "lá" e "cá" ao mesmo tempo. Ou por outra, pode mas não dá tanto gozo porque se tem de estar sempre alerta. É um cansaço. Uma maçada. Bom, bom é deixarmo-nos ir, abstrairmo-nos de tudo, mudarmo-nos de mala e cuía para "lá". Onde vivem aquelas pessoas que nos encantam. Onde se vivem aquelas vidas. Onde se sofrem dores de que nos apropriamos e, por isso, são dores escolhidas. São dores doces. Seguirmos apenas o guião que o autor desenhou. Não precisamos de iniciativa. Não precisamos de decidir. Está tudo feito. Podemos investir toda a nossa energia em deixarmo-nos embalar.

Ando assim. Ando a querer isto. Mas a vida não deixa. Inexoravelmente (adoro o determinismo desta palavra, estranhamente faz-me sentir segura) tenho que estar "cá". E tomar decisões acerca de coisas menores, comezinhas. Como o dinheiro, por exemplo. Que gostaria que não me servisse para nada mas que serve para quase tudo. Ou tudo mesmo, deixemo-nos de líricas ilusões.

Dava tudo para me sentar de novo à mesa da copa, na languidez do a seguir ao almoço, a ouvir ao fundo a música imperceptível das conversas das empregadas no seu dialecto doce, à minha frente uma folha arrancada de um caderno qualquer, escritas a caneta de tinta permanente aquelas letras desassombradas. A fazerem-me fosquinhas. A imprimirem em mim o desejo de ser crescida. Para poder viver na pele todas as delícias que as palavras proibidas me prometiam.

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