quarta-feira, fevereiro 20, 2008

 

SITEMETER

Descobri que tenho um leitor do meu blog aqui onde trabalho. Quando a Ana instalou (nem sei se é assim que se diz) o sitemeter achei que nunca teria paciência nem motivação para me pôr a vasculhar a origem e muito menos a frequência das visitas aqui a casa. Já me enganei, pelo menos, duas vezes.

Houve uma altura em que me diverti a apreciar o cortejo de visitas que um certo poste, mal recebido por ter sido mal entendido (ou o contrário, tanto faz) provocou. Um grupo específico de pessoas, algumas de quem até gosto muito, outras que me são absolutamente indiferentes, desataram a visitar-me e dar-me feed-backs do que cá foram encontrando. As mais afoitas, fizeram-no espontaneamente. A outras, sentindo-me eu presenteada com a deferência das suas vindas, instei-as ao comentário.

Já me tinha passado pela cabeça que não seria de todo impossível que alguém desse comigo por aqui. Sei que trabalham cá outros "blogueres" e sabemos bem como as coisas se processam e que, num instantinho, se dá a volta a este mundo. Nunca me preocupou esse facto nem hesitei em escrever fosse o que fosse por receio de ser identificada. É verdade que muito poucos sabem os pormenores da minha vida que entendo guardar. Hoje, posso dizer com toda a convicção que é por uma questão de pudor, eu que pareço tão desbragada a falar de mim, tão extrovertida, tão desinibida. Mas (como já escrevi algures) sou, na verdade, precisamente o contrário. Desempenho é muito bem o papel que acredito ter, no argumento da vida que vivo com os outros nem por isso muito significantes. Não é por mal. Sou autêntica nisto que faço.

No entanto, não tenho qualquer dificuldade em me assumir. Como sou. Uma mulher absolutamente feliz. Que, por acaso, vive o pormenor de se deitar todos os dias com outra mulher. Que é a pessoa exacta com que sonhei para ser o meu amor.

Sei o guilty pleasure que é ler um blogue de alguém que conhecemos e que não faz a menor ideia de ser lido por nós. Também me acontece. Todos os dias. Não sei bem o que espero, se alguma revelação bombástica, se um desvelar impossível noutras circunstâncias. Por isso, percebo perfeitamente que outros se sintam também assim. Não gostaria é que houvesse alguém que pudesse ter vontade de falar comigo acerca de algumas coisas e não o fizesse, apenas por não saber como ultrapassar o momento incómodo de dizer que me conhece mais do que eu penso.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

 

COMIDA LIGHT

Almoço quase sempre na cozinha/copa/refeitório do local onde trabalho. Para além da óbvia preguiça que tenho de ir à rua à hora do almoço, do enjoo que já tenho a tudo o que se come nos restaurantes e tascas à volta, há a imperiosa necessidade de fazer dieta rígida e, consequentemente, só me atrever a comer os grelhadinhos e as saladas (de insipidez equivalente) que trago de casa e a que dou um arzinho de coisa apetitosa, requentando os primeiros na cloche - que o senhor director nos comprou pessoalmente na makro - e enchendo de vinagre balsâmico as seguintes, sob os olhares de atraída repulsa de algumas colegas.

Mas a verdadeira razão que me prende àquele espaço é outra. Não podem supor o que ali se passa. Só vivido. As conversas, as interacções, as ementas, os arrotos, o sonoro retirar de restos de comida de entre os dentes, os dramas familiares, as injustiças laborais, o aquecimento global, o encanecer dos pelos púbicos, a receita para ter sempre os pés hidratados, os ratos mortos debaixo do lava-loiça e os que ainda se mantêm moribundos, presos às modernas ratoeiras cheias de nhanha que cola. De tudo se fala, a maior parte das vezes com tamanha paixão e empolamento que fico tonta de processar tantos estímulos. Ah! Com a televisão sempre com o som no volume necessário para se sobrepor a todo este falatório. Que não se pode dispensar informação preciosa, alimento para mais conversas sobre a desgraça que grassa por esse mundo fora.

Sexta-feira passada foi um mimo. Tudo começou pelos comentários tecidos a propósito do primeiro livro português cujo protagonista é um menino que foi criado por duas pessoas do mesmo sexo. "Isso é um horror! Não posso concordar!" Dizia enfaticamente um colega. Em pensamento, esfreguei as mãos! 'Tás lixado. Pensei. Nem imaginas o baile que vais levar. E assim foi. É maravilhoso vê-los rabiar, sem perceberem muito bem donde me vem tanta convicção, esta vontade de defender algo com que não tenho obviamente nada a ver... É bem feito para não serem preconceituosos. São tristes na sua visão limitada do mundo, formatada e cheia de clichés. Ai o que eu vou gozar. Um dia. Por enquanto, vou-me só divertindo.

Sentindo-se já um pouco tolo, argumentou que, vá lá, uma criança criada por duas mulheres ainda... mas por dois homens não! Até porque os homens precisam de uma mulher. Que seja sua mãe. É por isso que eles casam. Acabam sempre por ser um pouco filhos das suas mulheres.

A sério! Tenho de reconhecer. Com esta ele conseguiu atingir-me o flanco e quase me derrubou. Fiquei parva de todo. Boquiaberta, de olhos esbugalhados, a perguntar-me incessantemente se estaria a alucinar. Andas a dormir pouco, mariazinha, e depois dás nisto. Mas ele repetiu, clarificando melhor a ideia.

Refeita do embate, para aí umas 12 horas depois, perguntei-me que raio de mulheres escolhem, vivem, criam homens assim. O orgão sexual de um filho (do sexo masculino) chama-se pilinha. Que mulher se deita com uma pilinha? Quem quer ser fodida por uma pilinha? Eu, no meu lado hetero, só consigo imaginar-me ser possuída por um mangalho, um pau, só penso em levar com ele, com um que me encha as medidas... Não há qualquer hipótese de se erotizar um filho. A não ser que se seja doente. O que me leva a pensar que há muito mais patologia do que a que está identificada. E da perigosa. Que é aquela que é desconhecida e ignorada por todos. Seus detentores incluídos.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

 

INDEFECTÍVEL

Detesto que me apontem erros. Quaisquer. Cresce-me da planta dos pés um formigueiro, uma onda de nervoso e raiva que me possui, pinta tudo dum encarnado violento e arranca-me da garganta sons articulados pelo monstro de que fico tomada. Vagamente, de muito longe, começo a ouvir o que digo e apercebo-me de que argumento - como dizem que só eu sei - deito mão seja ao que for, para relevar o erro que, as mais das vezes, cometi. Mesmo. Poucas coisas me custam tanto quanto a admissão de um faux-pas (soa tão bem que nem parece o que é...).

Lamentavelmente, tenho um prazer desmedido em descobrir erros nos outros. E quanto mais admiro alguém, melhor me sabe apanhá-lo em falta. É triste mas é verdade. Deve ser porque, de certa maneira, aqueles que admiro são modelos a seguir. E, se falham, tornam-se modelos mais tangíveis, mais reais, patamares mais acessíveis. Mais humanos, portanto. Mais próximos de mim. Logo, mais queridos. Dando assim esta volta, quase consigo escamotear a verdade feia de gostar de apanhar os outros em falso.

Apesar de tudo, vários anos de terapia, da dos psis e a da porradinha da vida que se leva quando se está vivo e se vive (que parecendo o mesmo, não é) têm-me feito mudar. O bicho que se apodera de mim já não é totalmente indomado. Tenho uma espécie de rede pronta a capturá-lo mal se solta. Uma vez controlado, olho-lhe bem nos olhos, lá fundo e tento perceber o momento que lhe deu vida, a razão da sua indómita existência. Quase sempre isto é suficiente para o ver mirrar, secar, transformar-se num dócil animal de companhia. Ou um peluche. A que posso agarrar-me para me sentir mais segura. Porque, em todo o processo, pelo menos aprendi que se erro, é porque faço. E se me corrigem, dão-me a possibilidade de aprender. É sempre a ganhar.

Ah! Vem tudo isto a propósito de correcções feitas lá na casa dela. E de verbos com nomes feios...

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