quinta-feira, abril 25, 2013

 

AGORA É SEMPRE O PONTO DE PARTIDA

Dizem-me dos sonhos com que cresceram. Falam-me de vidas em construção. Do passo a passo que visa um objectivo. Alcançar uma meta. Programar um propósito.

Não os entendo. Não sei querer ser. Nunca pensei nisso. Cresci como que por natureza. Nunca escolhi, nunca planeei. Vivi com toda a intensidade (com desmesurada intensidade mais vezes que o confortável) cada dia, cada etapa, cada fase, cada idade. Desconheço a ambição, o acalentar de um sonho, o traçar de um percurso - recto ou sinuoso - para ir dar a algum lugar, a qualquer coisa.

Sou profissionalmente feliz, realizada ao minuto, na prática do que foi evidente. Não há bifurcações no meu caminho. Placas que me guiassem. Tenho, debaixo dos pés, pequenas turbinas propulsoras que me levam. Quanto disso é desresponsabilidade? Quanto disso é apenas viver?

Sento-me na beira deste degrau, que ainda não sei se sobe ou desce, que me leva aos 45 anos e, cá dentro, funciona tudo como sempre. De olhos arregalados, ouvidos muito à escuta, mala pronta, encanto-me com o livro aberto, em branco, que tenho à frente. Não paro. Não seria meu, fazê-lo. Não seria eu, sê-lo. A surpresa é o ar que me oxigena o sangue, que me leva a vida a todo o corpo. De futuro não sei nada. Só conjugo o presente. Este que, em movimento, me conduz ao destino que tenho.

Trago a herança dos fortes, dos destemidos, a arrogância de quem tudo pode porque nada é demasiado. Deste degrau que se move - tapete voador ou vassoura de bruxa - estendo os braços e sacudo as mãos. Conjuro a magia de transformar os dedos em pequeninos leds que iluminam o espaço que ocupo. Fica tudo branco. Tudo em branco. O zero mais que absoluto. O nada (diferente de coisa nenhuma) prestes a preencher.

E, como nunca, ouço a voz do meu pai que nem aos 90 anos perdeu a firmeza e o desassombro: "hoje é o primeiro dia do resto da minha vida".

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