segunda-feira, fevereiro 14, 2011

 

COISAS DE BRUXAS?

Ontem falaram-me do "caldeirão". Exactamente o que eu precisava para poder concluir a metamorfose. Et voilá!...

terça-feira, fevereiro 08, 2011

 

REMINDERS

"ÓRBITA CEMITÉRIO" - Lucía Etxebarria, Beatriz e os Corpos Celestes


Yet come to me in my dreams, that I may live
My very life again though cold and death
Come back to be my dreams, that I may give
Pulse for pulse, breath for breath:
Speak low, lean low
As long ago, my love, how long ago.

CHRISTINA GEORGINA ROSSETTI, Echo


"NO LUGAR DO MEDO"- Lucía Etxebarria, Beatriz e os Corpos Celestes

Lá onde começa o desejo, no lugar do medo, onde nada tem nome e nada é, antes parece.

CRISTINA PERI ROSSI, Desastres Íntimos


"LUZ DE UMA ESTRELA MORTA"- Lucía Etxebarria, Beatriz e os Corpos Celestes
Gostaria de pensar que existe alguma coisa certa no aforismo AMOR VINCIT OMNIA. Mas se alguma coisa aprendi nesta curta e triste vida é que essa frase feita é mentira. E o que nela acreditar, um insensato.

DONNA TART, O Segredo


FINAL - Lucía Etxebarria, Beatriz e os Corpos Celestes

You want a reason: I'll give you reasons, don't change your ideals with every season, just look inside yourself for information and make your own life a celebration, you've got the power, power to be strong, an education that should be lifelong, don't be a victim of expectations, just make your own life a celebration.


THE BELOVED, Conscience

 

"A CIDADE EM RUÍNAS"

O início do segundo capítulo de um dos livros preferidos da minha vida, marcou-me tanto que, nas mais variadas situações, quando falo com alguém em sofrimento, acabo por me lembrar daquele parágrafo e costumo referir-me a ele, embora sem o citar ipsis verbis que a minha memória não é assim tão prodigiosa e porque, na verdade, o que importa é a ideia.

Hoje, no entanto, é para mim que o quero lembrar. E retirei da estante o livro que está todo de folhas soltas, provavelmente pelos maus tratos que lhe dei nas vezes que o li. Porque a reverência com que trato os livros, não inclui cuidados com o objecto que são. Antes pelo contrário. Gosto de os vincar, riscar, deixá-los de lombada quebrada. Se um livro passa por mim incólume, pronto a ser leiloado no e-bay com a descrição "praticamente novo", é porque não me deixou absolutamente nada.

Por ser para mim, quero que estejam lá as palavrinhas todas, tal como as bebi. E, para que se gravem indelevelmente, quero deixa-las aqui escritas. Como se fosse uma cábula de harmónio como as que fazia para os testes mas que acabava por nunca usar, uma vez que a transcrição da matéria para o papel que dobraria cuidadosamente para enfiar em qualquer orifício de fácil acesso, era suficiente para que não mais me esquecesse do que lá estava.

"Não tentes enterrar a dor: estender-se-á pela terra, sob os teus pés; infiltrar-se-á na água que tenhas de beber e envenenar-te-á o sangue. As feridas fecham-se, mas ficam sempre cicatrizes mais ou menos visíveis que voltarão a incomodar quando mudar o tempo, lembrando-te na pele a sua existência e, com ela, o golpe que as originou. E a recordação do golpe afectará as decisões futuras, criará medos inúteis e tristezas vis, e crescerás como uma criatura apagada e cobarde. Para quê deixar para trás a cidade onde caíste? Pela vã esperança de que, noutro local, num clima mais benigno, já não te doerão as cicatrizes e beberás uma água mais limpa? Em teu redor erguer-se-ão as mesmas ruínas da tua vida porque, para onde quer que vás, levarás a cidade contigo. Não há terra nova nem mar novo, a vida que não aproveitaste ficará por aproveitar em qualquer parte do Mundo."

LÚCIA ETXEBARRIA, Beatriz e os Corpos Celestes

domingo, fevereiro 06, 2011

 

ÓBITO

Na terra onde nasci, faz-se uma festa quando morre alguém, É uma coisa que os "brancos" nunca perceberam muito bem, por mais cafrializados que tivessem ficado. Bebe-se, come-se, xinguila-se e chora-se muito. Esta parte é imprescindível e, para isso, contratam-se as carpideiras, talvez no que de mais próximo há com os enterros da província. Um morto tem de ser chorado. Aos gritos, em soluços e gemidos angustiantemente prolongados, acompanhados de arrepelar de cabelos e espasmos dos membros superiores e inferiores.

Nos meus mortos, nunca houve nada disso. Somos todos demasiado discretos, demasiado contidos na nossa dor para que nos permitíssemos tais figuras. De tal forma que, no enterro da minha mãe, de repente, a prima da empregada que havia começado a trabalhar na nossa casa há 15 dias, desatou numa gritaria que a todos assustou. Africana de origem, deve ter pensado que éramos uns desleixados, uns filhos ingratos, uma família miserável por deixar que aquele ente tão querido se fosse assim, sem o devido acompanhamento sonoro.

Sete dias depois, lá na banda, "varrem-se as cinzas". E há mais festa, muita comida e bebida, muita incorporação de espíritos, na verdadeira celebração da passagem que é a morte. Gente tão sábia aquela...

Eu não sei fazer nada disso. E devia. Porque, desde pequena, sempre achei que seria capaz de matar alguém, numa situação-para-mim-limite o que, necessariamente, me dá maior responsabilidade na forma como deveria cuidar do defunto resultante. A verdade é que só consigo imaginar-me a braços com o morto, literalmente. Sem saber como chorá-lo porque o decoro não me permite gritar, nem gemer, nem soltar sequer um inaudível soluço. Sem saber onde o guardar, sem ter a quem confessar que o homicídio cometido só foi porque teve mesmo de ser e que eu só quero tratar de tudo com a dignidade que o morto deveria merecer, embora tenha cometido a loucura de ceder à exaustão, acertando-lhe um tiro certeiro.

O problema é que, sem os rituais devidos, arrisco-me a ser perseguida pela sua alma penada e danada. O que me levará ao Inferno em vida.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

 

NA MANHÃ DE 4 DE FEVEREIRO

Os caminhos interiores, inevitáveis para a a nossa evolução, escolhemo-los nós. E, imprescindível para que que se façam, é a responsabilidade que assumimos perante as escolhas que vamos fazendo ao longo do percurso que, se bem feito, é tortuoso e cheio de atalhos que nem sempre sabemos a que nos conduzem. A única certeza que temos é de seguir em frente, ainda que, por vezes, acabemos num ponto por onde já passámos e tenhamos que lidar com a perda de tempo, de sensação de energia desperdiçada, de andar a dar voltas. Mas isso faz parte e é também caminho. É sinal de que temos de voltar atrás e escolher outro percurso. Claro que temos que nos disponibilizar para isso e aceitar como necessário e incontornável. E, é nessas alturas que nos faz bem lembrar o grande Frankl e exercer a última das nossas liberdades que é escolher como reagir perante as circunstâncias do destino. Sendo, iminentemente uma pregorrativa nossa, só a nós diz respeito. E não escutarmos o nosso coração, o corpo que nos dá sinais, as emoções que sentimos é que é o verdadeiro desperdício de vida. Acima de tudo, o que deve pautar as nossas decisões é o nosso querer estar bem, o sabermos defender-nos do que nos faz mal e não nos obrigarmos a aceitar o que nos dói, só porque sabemos que o caminho é de dor. Que é, com efeito. Mas dores há muitas e algumas não fazem outro sentido senão aniquilarmos a nossa vontade e passarmos por cima do que, em insconsciência, vemos como consequência lógica. A responsabilidade obriga-nos ao discernimento. e a sabermos destrinçar o trigo do joio, o necessário e o acessório, o dispensável e, até, o que pode ser destruidor. O respeito pelo outro não implica a surdez, a atitude autista perante o que o outro nos faz sentir, em prol da concretização de um objectivo, de alcançar a meta que temos em mente.

Os caminhos são únicos e individuais. Cedermos a acompanhar o caminho de outro, não pode implicar sofrermos com as escolhas do outro.

Para mim, é claro. Se puder fazê-lo, escolherei que seja sem dar o corpo às balas, sem me maltratar. Porque não é o outro que me faz mal. Sou eu que o permito.

E já sou boa demais, já me respeito o suficiente para me obrigar a ter essa clarividência e assumir as consequências. Tudo o resto roça o masoquismo bacoco que nada serve. Posso tenho uma vida plena, se assim o quiser, se a isso me permitir. Nada justifica uma atitude diferente. Só custa empurrar o amor para a barriga. Que é o lugar onde pertence e onde tenho que o alimentar.

Na minha terra, hoje canta-se que, neste dia, "os heróis quebraram as algemas". Poderá haver melhor imagem?

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

 

NOVO INQUILINO

Hoje aprendi que o amor não se guarda no coração. O peito é lugar demasiado perto da garganta, demasiado perto da boca. O que faz com que, ao pequeno descuido, se nos soltem pedaços, palavras, soluços, gemidos, queixumes, arroubos espampanantes de paixão e declarações de amor ardente. Que se perdem na intensidade da projecção com que são emitidos. Demasiada potência, cavalos a mais, num veículo que serve um percurso tão curto. Por outro lado, se voraz, também se alimenta com pouco e rápido, como um hipoglicémico que arriba por cinco minutos com um pacote de açúcar, para cair redondo de seguida.

O verdadeiro amor guarda-se mais abaixo. Algures entre o estômago e o baixo-ventre, parece que no plexo solar, que disso não percebo nada, embora devesse. Faz-me sentido. Afigura-se-me um lugar mais seguro. Nem entra nem sai nada inadvertidamente. Não está vulnerável aos caprichos do clima. Mantém uma temperatura mais ou menos constante. Conforta. Como uma sopa saborosa e quente num dia frio de inverno. E - disseram-me e eu acredito - este é um amor mais rico, mais completo. Se calhar por estar mais fundo em nós, é amor pelo outro mas também amor pelo próprio. E, por isso, nunca nos deixa ficar mal, nunca nos falta, não nos abandona. Não se nos escapa boca fora, ao primeiro bocejo de tédio ou ao primeiro arranco de dor. Também é mais perene. Não se volatiza. É de confiança, no fundo.

O problema surge quando o espaço para esse amor está ocupado e ele é obrigado a morar no andar de cima, à face da rua ou, nos casos mais graves, nas sombrias águas-furtadas da caixa craniana. Nessas situações impõe-se a emissão da ordem de despejo do inquilino ilegítimo, sem recurso à usucapião, sejam quantos forem os anos de ocupação. Mas é um processo que tem de ser bem conduzido. Primeiro, há que conhecer muito bem o indesejável sujeito. Torná-lo objecto de desvelado estudo. Usar de todas as artimanhas para lhe conquistar a confiança. Saber dele o mais possível. Dominar-lhe a razão de existir. Levá-lo, com recurso ao que for necessário, à nudez total, à palma da nossa mão. E, nesse momento, sem hesitações, desferir o golpe de misericórdia, doa o que doer. Doa a quem doer. Doa como doer.


Hoje, precisei de me irritar muito contigo, mãe. Já chega de me apareceres em sonhos sempre com um ar descontente, tu que tinhas um dos sorrisos mais bonitos que já vi. Aquele espaço que ocupaste já não é teu. Preciso dele, mãe. Estou a pôr-te fora, mais às tuas expectativas em relação a mim, mais à minha falta de segurança e ao meu estado de alerta permanente, como se pudesse assegurar-te de que nunca seríamos apanhadas de surpresa.

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