sexta-feira, janeiro 19, 2007

 

SIM. PORQUE NÃO?

Ando às voltas com isto há já algum tempo. Mas irrita-me que toda a gente fale do mesmo. Eu sei que é tema do momento, que faz falta discuti-lo. Mas não consigo deixar de sentir um certo enfado, uma certa necessidade impreterível de ser original e não falar do mesmo que os outros. Até aqui é fácil. O pior é quando dou por mim a pensar repetida e insistentemente naquilo de que os outros permanentemente falam... E enfio a minha arrogância-snob-mania-de-ser-original num saco do lixo preto com atilhos, amarfanho-o bem e atiro-o para o canto mais esconso da minha atafulhada arrecadação. Literal e metaforicamente falando, entendamo-nos. Afinfo-lhe umas bombadas de Dettol - para acabar de vez com o bicho e qualquer remota possibilidade de reanimação - e... eis-me aqui.

Já votei não. Convicta das minhas opções, defendi acaloradamente o meu voto. Senti pena e desdém e também um bocadinho de sobranceria por quem, coitado, tinha de escolher sim por ser tão básico e primário que não ascendia ao não. Isto foi há quantos anos? Não faço ideia. Para mim, o tempo é o que faço com ele e, da mesma maneira que posso saber exactamente quantos dias passaram desde um determinado acontecimento importante, não sei (e não ligo nenhuma pelos vistos, porque é assunto recorrente no momento) quando foi o anterior referendo. Também, só me serviria para fazer uma estimativa do tempo que levei a SER mais um bocadinho. Na verdade, não mudei. Não me tornei menos arrogante, limitada e um pouco imbecil. Continuo a sentir que a maioria das gravidezes indesejadas decorrem de comportamentos irresponsáveis, ainda que saiba que não é sempre assim. Mas, pelo menos comigo, o que predomina são os afectos e não me adianta de nada saber coisas. E, neste particular, há uma rede intrincada de emoções que me levam a bloquear a capacidade de evoluir no meu sentir. Votaria não, portanto, de novo. No entanto, alguma coisa está diferente em mim. Que só interfere com esta questão específica porque é transversal a tudo o que sou. Tornei-me infinitamente mais tolerante. Quem sou eu, afinal, para julgar quem quer que seja? Ainda que, na minha moral, considere os outros irresponsáveis, inconscientes, ignóbeis? E depois? É a vida deles. Que tenho eu a ver com isso? Como posso, com o meu voto, cercear a possibilidade de cada um escolher o seu caminho ainda que convicta de que não seria o meu? Como posso, sequer, ter a certeza de que não seria? Nada me garante que o meu não, é melhor que o sim dos outros. Até porque decorre apenas de uma atitude moral distorcida, assente em princípios dúbios do que é certo e errado. Nem sequer me impressiona a questão da vida que se mata, do coraçãozinho que já bate... O meu não é rígido, intransigente, cobarde. E eu não quero ser assim.

Comments:
Que belo este seu texto, a dizer-se assim, desta forma humilde que é a de nós todos, sem que ninguém seja dono da verdade.
E obrigada pelos parabéns.
e é que estou mesmo tão feliz por ter um filho como o André.
É bom dizer o nome de Deus, de igual para igual.
 
Gostei muito! Muito muito muito! Um grande beijinho!
 
Também gostei muito.
Ainda bem que há pessoas como tu, como o meu andré, a minha teresinha e a caty (minha tb, amiga). Que orgulho tenho em vos conhecer!
xxx
 
No primeiro não votei. Por não me conseguir decidir. Hoje costumo dizer: Voto Sim pela despenalização, mas sou contra o aborto por convicção. In the end, quem sou eu para julgar os outros? Acho contudo que toda esta campanha é nojenta. Dá-me asco.
 
Neste momento é um pouco assim que sinto tambem em relação a este assunto...
Quem sou eu para julgar atitudes e comportamentos? E a liberdade, onde está? Mas sinto que estou mais perto do sim :)...
 
My thoughts exactly. Exactamente pelas mesmas razões votei Não no anterior e por estas mesmas razões ainda não me decidi o que votar neste... até lá a balança irá pender para qualquer um dos lados e não será, seguramente, à conta de qualquer uma das campanhas!!

Beijinhos
 
Pois... Revi-me nas tuas palavras. Mas desta feita, e sem olhar muito para as campanhas para não vomitar, vou votar sim. Acho que os meus 44 e o que passei recentemente ma presentearam com uma tolerância enorme...

Abraços da

Guiminhas
 
Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?



eXTReMe Tracker