segunda-feira, fevereiro 18, 2008

 

COMIDA LIGHT

Almoço quase sempre na cozinha/copa/refeitório do local onde trabalho. Para além da óbvia preguiça que tenho de ir à rua à hora do almoço, do enjoo que já tenho a tudo o que se come nos restaurantes e tascas à volta, há a imperiosa necessidade de fazer dieta rígida e, consequentemente, só me atrever a comer os grelhadinhos e as saladas (de insipidez equivalente) que trago de casa e a que dou um arzinho de coisa apetitosa, requentando os primeiros na cloche - que o senhor director nos comprou pessoalmente na makro - e enchendo de vinagre balsâmico as seguintes, sob os olhares de atraída repulsa de algumas colegas.

Mas a verdadeira razão que me prende àquele espaço é outra. Não podem supor o que ali se passa. Só vivido. As conversas, as interacções, as ementas, os arrotos, o sonoro retirar de restos de comida de entre os dentes, os dramas familiares, as injustiças laborais, o aquecimento global, o encanecer dos pelos púbicos, a receita para ter sempre os pés hidratados, os ratos mortos debaixo do lava-loiça e os que ainda se mantêm moribundos, presos às modernas ratoeiras cheias de nhanha que cola. De tudo se fala, a maior parte das vezes com tamanha paixão e empolamento que fico tonta de processar tantos estímulos. Ah! Com a televisão sempre com o som no volume necessário para se sobrepor a todo este falatório. Que não se pode dispensar informação preciosa, alimento para mais conversas sobre a desgraça que grassa por esse mundo fora.

Sexta-feira passada foi um mimo. Tudo começou pelos comentários tecidos a propósito do primeiro livro português cujo protagonista é um menino que foi criado por duas pessoas do mesmo sexo. "Isso é um horror! Não posso concordar!" Dizia enfaticamente um colega. Em pensamento, esfreguei as mãos! 'Tás lixado. Pensei. Nem imaginas o baile que vais levar. E assim foi. É maravilhoso vê-los rabiar, sem perceberem muito bem donde me vem tanta convicção, esta vontade de defender algo com que não tenho obviamente nada a ver... É bem feito para não serem preconceituosos. São tristes na sua visão limitada do mundo, formatada e cheia de clichés. Ai o que eu vou gozar. Um dia. Por enquanto, vou-me só divertindo.

Sentindo-se já um pouco tolo, argumentou que, vá lá, uma criança criada por duas mulheres ainda... mas por dois homens não! Até porque os homens precisam de uma mulher. Que seja sua mãe. É por isso que eles casam. Acabam sempre por ser um pouco filhos das suas mulheres.

A sério! Tenho de reconhecer. Com esta ele conseguiu atingir-me o flanco e quase me derrubou. Fiquei parva de todo. Boquiaberta, de olhos esbugalhados, a perguntar-me incessantemente se estaria a alucinar. Andas a dormir pouco, mariazinha, e depois dás nisto. Mas ele repetiu, clarificando melhor a ideia.

Refeita do embate, para aí umas 12 horas depois, perguntei-me que raio de mulheres escolhem, vivem, criam homens assim. O orgão sexual de um filho (do sexo masculino) chama-se pilinha. Que mulher se deita com uma pilinha? Quem quer ser fodida por uma pilinha? Eu, no meu lado hetero, só consigo imaginar-me ser possuída por um mangalho, um pau, só penso em levar com ele, com um que me encha as medidas... Não há qualquer hipótese de se erotizar um filho. A não ser que se seja doente. O que me leva a pensar que há muito mais patologia do que a que está identificada. E da perigosa. Que é aquela que é desconhecida e ignorada por todos. Seus detentores incluídos.

Comments:
Maria Carolina, é um colírio ler os teus textos, escrita clara e frontal como eu gosto, mas imaginar-te, (mesmo sem te conhecer), a olhares aquele Ser com Pilinha, deu-me o gozo de umas boas gargalhadas a só! Fantástica forma de Expressão a tua! (agora quero só ver o que vais escrever depois da nossa sessão de cinema em casa;))
 
francamente não vejo qual é o problema menina maria porque toda a gente sabe que os homens adoram dormir com as mamazinhas e por isso é que fora as mães e as santas todas as mulheres são meras prostitutas e por isso merecedoras de todas as sevícias que se possam imaginar de igual moda toda a gente sabe que as mulheres adoram os seus papás que tratarão como filhos mais cedo ou mais tarde por ser esse o seu óbvio dever e dormir com os filhos é só um mal necessário não é isso então o verdadeiro instinto maternal das mulheres eu cá acho francamente é que nós é que estamos cheias de preconceitos e de freios sexuais dos quais devíamos fazer um apurado balanço e depois tapar a cara com vergonha porque afinal o mal está em nós porque como vê ovelha mansa mama do seu e do alheio ou seja caladinhos eles lá vão dando vazão às suas patologias e a gente leva no toutiço por muitíssimo menos

já me esquecia de lhe dizer que o seu escrever tem graça e a menina só pode ser uma castigadora para nos privar assim de tão gostosas diatribes
 
Amei.
Sim, os rapazes têm fixação nas mães, mas acho que só querem casar com elas antes de descobrirem as outras miúdas. Até aos 6,7 anos, portanto...;)
E não, gaja que é gaja, não se deixa assim foder por uma pilinha. Credo! Nem tão pouco fica com um gajo (isto no meu caso, né?) que a queira para mãe dele. Uma gaja quer é outra pessoa que a veja como pessoa (à altura).

Beijos, querida! (e à Ana também)
 
Não se trata de complexo de Édipo transferido, mas em muitos casos, sindrome de conforto a todo o custo. Não creio que seja generalizável, mas a existir tal transferência homogénea de características, entende-se aqueles casos em que a coisa arrefece e passa de associação psicossexual para companheirismo confortável. Creio que para muitos, quanto mais parecida com a respectiva mãe, maior o desejo de tornar a coisa assexuada. É por isso que anda por aí muita malta que faz fora de casa o que deveria fazer dentro, e infelizmente separa a mulher a quem se pode fazer "a" e as outras, a quem se pode dar o resto do abecedário. Como homem, essa carapuça não serve, mas sou forçado a admitir que é fenómeno muito frequente e triste. Mas dificilmente generalizável, creio.

Vim aqui parar por acaso, mas congratulo-a pelo excelente texto. :)
 
P.S. O que importa é ser criado com amor e liberdade (pedagógica) de espírito. O resto são detalhes. É a presença e marca humanista que conta, e não a chamada distribuição sexual equitativa nos progenitores, isto em meu ver, claro.
 
Escreva, caraças, escreva. Ponha-os a «rabiar», verbo de que sinceramente gosto.
 
lol... nao deixo de me divertir com tanta gentinha que por ai anda...
visceraslda.worpress.com
 
Gostei muito do texto, também tenho por hábito ficar a apreciar o boom de disparates do ser humano no seu melhor. Refeitórios, entradas de empresa, balneários de ginásio, cabeleireiros.....a não perder.
 
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