quinta-feira, dezembro 09, 2010

 

PERDOAI-LHES SENHOR?

Cresci a ouvir (sempre a minha mãe!...) que "desculpa não cura ferida". O estribilho popular diz que "as desculpas não se pedem, evitam-se". Talvez por isso, aprendi a pedir desculpa apenas socialmente, quando o que está em causa é uma falta de correcção, como não segurar uma porta para quem entra atrás de mim, ou sujar uma toalha imaculada ao servir-me. Nas outras situações, tento ser o mais assertiva possível e explicar porque não tive o comportamento esperado. No entanto, a culpa sempre foi presente. É engraçado o paradoxo de ter sido quem me ensinou que as desculpas não servem para nada que mostrou todas as variantes da culpa que podemos - e deveríamos - sentir. E, de cada vez que me insurgia contra esse peso, ainda que sem consciência nenhuma disso, logo aparecia uma categoria nova, mais uma entrada no cardápio das culpas, em permanente actualização.

A remissão, por não ser possível pelas desculpas, deveria advir-nos do perdão. Esse sim. Deveria ser pedido, implorado se necessário, vividas as penas inerentes, por mais duras que fossem, para que o conseguíssemos. Mas pior, pleonasmicamente imperdoável, era não sermos capazes de o conceder.

Hoje nada disto me faz sentido. Aprendi que o perdão mais não é do que um upgrade snob e arrogante, aparentemente mais sofisticado, da desculpa.

Eu não quero conceder perdões. Essa hipótese coloca-me numa posição de supremacia que ninguém pode ter em relação a outro. Quem sou eu para o fazer? De que poder fui investida? Para mim, só pode haver um caminho. Se alguém me fez tão mal que me deixou profundamente magoada só posso tomar uma de duas atitudes: ou deixa de ser pessoa e, não o sendo, não é possível despertar-me qualquer sentimento, ou encontro em mim o espaço de total compreensão e aceito a dor causada como algo que não foi possível evitar, que fez parte do caminho daquela pessoa e que terá, com toda a certeza, um sentido. E o melhor que posso fazer, é aproveitar a experiência para me tornar um bocadinho mais tolerante e um bocadinho mais perto de ser melhor.

Tenho esperança, não... é mesmo fé, que quem me ama possa ter a compaixão (no sentido anglófono da palavra) de me tratar da mesma forma.

Comments:
Estas questões são sempre muito pessoais, mas revejo-me totalmente no seu comentário. Sinto algum alívio (não sei bem se será este o termo) quando encontro alguém a escrever o que eu nunca escrevi, mas que senti centenas de vezes.
Na minha opinião, para lá de todas as culpas, desculpas e perdões, está a tolerância, no sentido de termos a humildade e a vontade de procurar compreender alguém que nos magoa, mesmo que isso nos faça doer. Compreender, no sentido de "vestir a pele" da outra pessoa. Depois, temos ainda que contar com as culpas que nos atiram como armas de arremesso e essas ... voltam sempre, juntamente com a arrogância de quem as usa.
É sempre bom quando se "encontra" alguém assim, como a Maria Carolina.
 
muito obrigada Carla. bom é encontrar quem nos entende.
 
Maria,

Embora não entenda (ainda) muito bem, digo-te que gosto de ti. E que tenho pena, muita pena, que algo se tenha perdido no tempo. tenho pena de estar longe. de estares longe. mas vamos sempre a tempo. sempre.
anda lá. vem jantar connosco. podes sexta?
Choux.
 
Posso sim, querida Choux. Nada me dará mais prazer. O tempo é uma dimensão relativa. Aprendi há pouco a diferença que há entre um minuto a andar com uns sapatos apertados que nos "mordem" os pés e o mesmo minuto na companhia de alguém querido.

Até sexta, então. Ligo-te para marcarmos.

Beijinhos X 4.
 
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