terça-feira, dezembro 14, 2010

 

A FORÇA

Há dias enchi o peito, toda ufana, para falar da esperança que tenho num determinado futuro que desejo. Quem me ouvia, fez um ar de profundo enfado, acompanhado de um som que, fora na minha terra e seria um muxoxo, e disse-me, compungida com a patente acefalia do meu ser: "esperança??? isso é uma porcaria!". Sustive (a tempo de não deixar a minha imagem ainda mais denegrida) todo o resto da prelecção que levava preparada e, o mais airosamente que pude, transformei os meus olhos de espanto num redondo ponto de interrogação. "Porcaria??? A Esperança, aquilo que nos mantém vivos ainda que num presente negro? Que nos dá alento para levantar da cama, tomar banho, enfrentar o trânsito, embrutecer em empregos sempre iguais que sonhamos um dia diferentes? Que motiva quarentonas solitárias a irem ao cabeleireiro, fazerem unhas de gel e a passarem na Zara, no mínimo uma vez por semana, para se manterem a par das modas, não vá aparecer-lhes quem lhes limpe o pó e lhes tire as teias de aranha? Que nos faz acreditar que os homens vão aprender a ser diferentes e que, por isso, a Terra continuará azul em 2125? Porcaria???".

Sim. Porcaria. Aquilo que se chama ao que não serve para nada e que tem como destino o lixo. Porque a esperança (o que me custa ainda dizer isto...) mais não é, na verdade, do que uma muito bem arquitectada falácia construída sobre sinais que queremos seguros mas que, muitas vezes, não passam de projecções dos nossos desejos, que vemos serem aleatoriamente emitidos pelos outros ou, até, pelo universo. Em resumo... porcaria! Porque nos mantém dependentes dos estímulos externos, das luzinhas ao fundo dos túneis, da procura febril (quantas vezes a raiar a ilegalidade) de indícios que nos mantenham em pé.

A minha interlocutora sorriu. E, com aquele arzinho de mãe doce que costuma usar comigo, disse-me: "Já a fé...". A FÉ! Essa coisa que não se sabe onde mora dentro de nós porque parece ocupar todo o espaço e ainda transbordar pele fora. "Aquilo que nos toca incondicionalmente". Aquilo que não precisa de provas, nem de indícios, nem de sinais. Que é força que é só nossa e não tem razões. Que nos leva a sermos capazes de nos transcendermos sem limites. A sermos heróis da nossa história pessoal. A lutar até que se nos rasgue a pele e nos caiam as unhas porque o que nos enche o peito é uma vontade indómita que nada fará vergar.

Dizem que o amor é a maior força que existe. Não é. A fé é muito maior. Porque é a fé que nos move em direcção ao verdadeiro amor. No matter what.

Comments:
Apetece-me "oferecer-lhe" algo de que gosto muito. A saudade não tem que ser só tristeza; também pode ser mudança ou lucidez!
Para si,
http://www.youtube.com/watch?v=0_1PAERbGz0

Espero que goste.
 
Não pude deixar de sorrir ao ler este post ... muitas coincidências!
A Fé move-nos para todo o lado, não só para o amor (no matter what), mas para a Vida. Ela é persistente, talvez seja a minha razão de ser e de certeza, é a minha forma de viver.
Por vezes, treme, mas volta mais forte, nunca sei até quando.
Beijo
 
Obrigada Carla. Que presente bonito. Mas, sobreteudo, obrigada por partilhar comigo a sua Fé.

Um beijo e volte sempre.
 
Eu volto sempre, irei dando opiniões, comentando, mas gostaria também que me "cedesse" um cantinho da sua privacidade, em que pudesse conversar consigo sem ser através do blog. Será posível? Ou será abuso? O meu mail está à sua disposição,"abuse"!
 
Carla, não é abuso nenhum. Não há nada de que goste mais na vida do que de pessoas. E sinto um enorme prazer quando o acaso me apresenta (ou me presenteia...) pessoas novas.

No entanto, não chegou a mandar-me o seu mail.

O meu é tuamaria@gmail.com. Sirva-se!
 
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