segunda-feira, dezembro 20, 2010

 

O MOMENTO

Durante uma conversa tida há pouco, escutei-me, de repente, em afirmação de uma atitude professa, tão distante do que sempre fui que quase me admirei. Enquanto falava (e o assunto surgiu no meio de nada muito sério) dei por mim a endireitar o corpo - barriga para dentro, peito para fora - cara sisuda, olhos esbugalhados de ataque de sobranceria. E saíram-me palavras que não sabia minhas. Aprendi a viver apenas o agora. O que vivi no passado tornou-me quem sou. Agora. Posso fazer o que quiser com isso mas no agora. Se não estiver aqui e agora, como posso projectar-me no futuro com a densidade que (não) possuo, sem enveredar por quimeras e meros devaneios, ilusões de quem não é? Não significa que não faça planos, que não alimente sonhos. Mas não vivo como se já lá estivesse. Num futuro que pode ser já de seguida mas que ainda não aconteceu.

Não é verdade que não existe o presente, como me ensinaram quando era pequena, pedindo-me para pestanejar e perceber a diferença entre o passado e o futuro. E o nada de entremeio. Esse nada é onde tudo acontece. Viver o momento-agora, é um verdadeiro segredo para a fruição total da vida, para o gozo pleno de estar vivo.

A nossa língua, de tão rica em rodriguinhos e volteios permite-nos, por vezes, perder o verdadeiro sentido das palavras, a essência de cada acção. Fiquei a pensar que os limitados e redutores "to be" ou "être" são, neste particular, muito mais expressivos. Podemos nós ser sem estar?

Comments:
Viver o agora! É claro que sim, é possível e desejável; no entanto, desconfio que só em momentos, porque cada um de nós, enquanto adultos, por termos uma longa história para trás, histórias que são amarras, vivemos o "agora" com os olhos postos no futuro (acho eu).
Acredito que só os adolescentes têm esse "instinto", essa necessidade, de viver com urgência, de viver o "agora", porque "amanhã" é londe de mais!Usufruem, calmamente, dos prazeres de não se cumprir um ou mais deveres. Esses,esses sim, não têm que se controlar, de se refrear, pura e simplesmente porque, para eles, o futuro é ainda uma miragem... os adultos aprendem, infelizmente, que no "agora", quantas vezes, têm já o futuro de sentinela, à espera, das onsequências.
 
olá Carla! pois é... mas podemos estar particularmente atentos para não deixarmos que o melhor se perca. e, ainda assim, arcar com as consequências.

um beijinho. que gosto de a ver por cá!
 
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